Por Evilásio Júnior e Sandro Freitas
 
Bahia Notícias – Por que é importante ter uma mulher na chapa do candidato a governador, o chefe da Casa Civil do Estado, Rui Costa (PT)?
 
Alice Portugal – Por que é importante ter mulheres em todos os espaços da política. As mulheres no Brasil são historicamente sub-representadas. Quando pego o avião na terça-feira [para Brasília] vão trinta e oito homens e eu para a Câmara dos Deputados [Alice Portugal é a única mulher entre os 39 deputados federais baianos]. Efetivamente, isso não representa a importância da mulher no tecido social brasileiro. As mulheres estão em todas as carreiras, em todas as áreas de atuação e em toda a base da sociedade. Portanto, é necessário garantir essa pluralidade no processo de discussão da reforma política, que estávamos embalados. Propúnhamos uma pluralidade. O deputado Fontana [Deputado federal Henrique Fontana (PT-RS)] chegou a propor dois homens para uma mulher, o que já seria um grande avanço para o Brasil. Hoje, nós temos 45 mulheres e 46, em alternância ano após ano, em um total de 503 deputados. Por isso é importante ter mulheres nos espaços políticos.
 
BN – Sempre se falou que a indicação para vice de Rui Costa estava restrita ao PP e PDT. Na semana passada o governador Jaques Wagner (PT) e o candidato comentaram o assunto e não descartaram outro nome. Rui Costa chegou a falar que PP e PDT tem a preferência, mas não exclusividade. A deputada Alice Portugal aceitaria o convite para ser vice?
 
AP – Essa questão da vice surge na imprensa, é uma especulação, e o meu partido, que é aliado de primeira hora do ex-presidente Lula, da presidenta Dilma e do governador Wagner, tem o projeto nacional como elemento primordial. Nossa compreensão é que esse projeto vem mudando o Brasil, tem limites, precisa ser aprimorado, mas a voz das ruas falou em junho de 2013 que o Brasil quer mais mudanças e avanços. Na nossa compreensão, ela vem com o aprimoramento dessa coalizão. Diante da especulação, o partido resolveu colocar a disposição, mas não vamos brigar com o PDT ou PP. Pelo pragmatismo da política, pelo que eu chamo de matemática da política, eles de fato têm mais musculatura, literalmente (risos). Portanto, esse é um critério: número de prefeitos, número de deputados. Mas, o critério que estamos propondo que seja avaliado, é o critério do diálogo com o movimento social, da representação feminina, das relações sociais plurais. E isso, de fato, é necessário para uma chapa que pretende ser correspondente ao que a voz das ruas solicitou, voltando e resgatando o caráter original dessa frente, que foi sem dúvida empurrada para a vitória pela frente popular. E que, no ano retrasado em especial, aqui na Bahia, teve um certo divórcio.  E vem em um processo crescente de reaproximação do governo com o movimento popular. Me refiro, especificamente, ao episódio da greve dos professores, que não estavam armados. E me parece que no meu caso, não seria só por ser mulher, mas por ter consistência nessa relação. Evidentemente, isso será uma escolha e nós [PCdoB] não criaremos nenhum problema para essa coligação, que é muito importante para a Bahia e o Brasil.
 
BN – Em 2012, aos 45 minutos do segundo tempo, a sua candidatura para prefeita de Salvador foi retirada. Na época falou-se que a senhora teria sido sacada e que houve uma imposição do PT. A senhora acha que o PT tem um débito em relação a 2012 com você?
 
AP – Eu acho que a história é implacável e nós não podemos subestimar o povo. Isso me guia permanentemente pela opção política que fiz muito cedo. A cada ato que tenho que realizar pergunto a quem serve. Na minha opinião, esse ato não serviu ao nosso propósito global, porque nós perdemos a eleição em Salvador. A esquerda genuína, os setores democráticos, perderam força em Salvador e deixaram de eleger o prefeito. E isso, de fato, pode ter tido algum tipo de influência. Não que eu tenha a soberba de dizer que ganharia, mas objetivamente poderia ajudar de maneira diferenciada. Foi uma opção, que foi tomada. Como tenho uma relação de fidelidade partidária, me submeti. Mas, estava embalada e gostaria muito de ter feito esse debate. Não agora ter que chorar sobre leite derramado. Irei enfrentar IPTU, visão higienista da cidade cortando linhas de ônibus de bairros populares para Barra… Isso tudo mostra o perfil, o DNA político de quem ganhou a prefeitura. Poderia ter sido diferente. Naquele momento foi uma opção. O governador achava que tinha necessidade de uma grande frente desde o primeiro turno. Eu acho que, talvez, tivesse sido de bom uso ter várias opiniões no primeiro turno, para a união no segundo. 
 
BN – Mas o PT tem esse débito com a senhora?
 
AP – (risos) Eu considero que na política, que é a arte de convencer e persuadir para transformar a vida das pessoas, a gente não pode contabilizar assim. Os fatos históricos se sucedem e você pode ser bem aproveitado ou não. Enfim… É necessário que a gente analise enquanto há tempo útil, para o aproveitamento de lideranças que podem fazer a diferença.
 
BN – O próprio governador disse que o PT se afastou de classes sindicais, movimentos sociais e lutas diversas. E o PCdoB, dentro desse arco de coligações, sem mantém mais próximo. Até porque a APLB é controlada pelo partido…
 
AP – Não existe controle, você que está dizendo.
 
BN – Tem um apoio, vamos dizer…
 
AP – Têm militantes lá no movimento. Mas, ela é plural.
 
Entrevista originalmente publicada no Bahia Notícias em 

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