
A deputada considerou que o projeto que restitui o nome 2 de Julho ao aeroporto de Salvador ganhará nova força a partir da nacionalização da data histórica. Segundo ela, na Câmara dos Deputados “não se sabia o que foi o 2 de Julho, mas agora a data está inscrita nas efemérides nacionais”. Alice esclareceu que o projeto que trata da matéria – de autoria do deputado Luiz Alberto (PT) com apensado seu – está pronto para ser votado na Comissão de Educação. “Agora depende do convencimento dos deputados de outros estados”, disse, ao salientar que essa “é uma mudança que só pode acontecer na Câmara dos Deputados”.
Questionada por Bárbara Souza sobre a dimensão que as manifestações recentes de brasileiros ganharam nas ruas, afirmou que também ficou surpresa com a proporção que o movimento assumiu.

Na sua opinião, os governos atuais da Bahia e do Brasil, são “os mais avançados da história do País”. A entrevistada citou avanços obtidos no Brasil na última década , como “programas sociais, universidades expandidas, escolas técnicas sob a forma de IFETs, que estão em todo o Brasil e já são mais de 150 núcleos de escolas técnicas no País; o ciclo escolar passou de 7 para 8 anos, com incorporação da pré-escola e as creches estão no projeto piloto para serem espalhadas pelo país”. Para a parlamentar, o governo “peca por não divulgar tudo que faz, por não ter interferido, do ponto de vista mais oficial, em divulgar em um veículo de comunicação seu”.
Ao declarar que no Congresso Nacional são “mais de 250 representantes do setor privado”, falou sobre a dificuldade em se aprovar recentemente em plenário 10% de investimento do PIB e 100% dos royalties do petróleo na Educação. “Foi uma luta; antes das manifestações já estava pronto para votar”, declarou.
Ainda em relação às manifestações, a parlamentar lamentou o que definiu como “uma aversão global à política”, que caracteriza os protestos. Para ela, isso pode criar “um vácuo que dá possibilidade a um espaço de sucção de golpes e de tudo que há de mais reacionário na sociedade”.
Alice considerou que os jovens que estão nas ruas estão fazendo política, para ela, o único mecanismo possível de transformação. “Reagir à política é algo que precisa ser analisado, porque é através da política que nós construímos mudanças, nas ruas, nos sindicatos, nas organizações não governamentais, onde seja”, defendeu.
Crise de representatividade
Sobre considerações de Bárbara Souza a respeito de uma “crise de representatividade”, a parlamentar declarou-se favorável á reforma política, mas ponderou que se a matéria tivesse sido votada antes, teria sido uma “reforma do grande capital”.
A deputada falou sobre a correlação de forças que se dá no Congresso em função de interesses de múltiplas representações dos parlamentares. “A sociedade tem de entender que o Congresso é um espelho plano; agora o povo não está se reconhecendo no espelho, mas em quem votou? Ali não tem ninguém nomeado”, argumentou.
Ao se posicionar favoravelmente ao plebiscito, defendeu o financiamento público de campanha e rechaçou a cláusula de barreira, que impede ou restringe o funcionamento parlamentar ao partido que não alcançar determinado percentual de votos.
Alice também manifestou-se a favor da luta que se trava no Congresso Nacional pela derrubada do fator previdenciário, que, segundo ela, “alonga o período de trabalho do trabalhador, sob o argumento de que a Previdência está com o caixa furado”. Para ela, “os grandes sonegadores” não foram punidos. “Não só Nicolau Lalau, que virou o símbolo, mas empresas que faliram e que deixaram rombo na Previdência como a Vasp, a Mesbla; o próprio Estado brasileiro é o maior devedor da Previdência”, disse.
Gota d’agua
Indagada por Dilma Rachid sobre se as manifestações de rua tenderiam a continuar, a entrevistada comparou o movimento a um “espasmo social” e recorreu a metáfora da gota d’agua do compositor Chico Buarque. Para Alice, as manifestações vieram para tirar o segmento da política da “zona de conforto”, mas “possivelmente não continuarão no mesmo porte”, disse, complementando que espera “que não parem”.
Segundo ela, a grande lição a se tirar do movimento “é que a voz das ruas é o grande catalisador, o motor da participação popular”. A deputada defendeu a organização do movimento “no sentido de ter uma pauta concreta, objetivos concretos”, que, no seu entendimento, só pode se dar a partir de organizações de segmentos da sociedade, “É fundamental que a sociedade saiba canalizar sua força para que ela não se disperse, para que ela não se perca em apenas um espasmo”, concluiu.
De Salvador,
Susana Hamilton